memória das eleições

Há 30 anos, acontecia o primeiro debate presidencial na televisão

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Foto: Reprodução

Há três décadas, o Brasil vivia um dos momentos mais importantes da história. Com o fim da ditadura militar e com a Constituição de 1988, o país estava, agora, diante de uma nova era. Vinte e dois candidatos concorreram à presidência da República nas primeiras eleições diretas. Alguns nomes já eram conhecidos dos eleitores, como Mário Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Paulo Maluf. Entretanto, eles precisaram dividir espaço com novatos na disputa pelo cargo máximo do país.

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Foi na Rede Bandeirantes e com mediação da jornalista Marília Gabriela que alguns desses candidatos estiveram frente a frente, discutindo propostas e apresentando planos de governo à população, que assistia, esperançosa, diante da TV. O "Encontro dos Presidenciáveis", primeiro debate presidencial televisionado, teve seis edições ao longo da campanha de 1989.

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A primeira edição, que foi ao ar no dia 17 de julho, contou com a participação de nove candidatos. Outros dois concorrentes - Fernando Collor (PRN) e Ulysses Guimarães (PMDB) - convidados não compareceram. Ulysses passou a participar a partir do segundo debate, e Collor - eleito naquele ano - esteve presente apenas no segundo turno, disputado entre ele e Lula.

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Em um formato um pouco diferente do que é visto nos dias de hoje, os candidatos respondiam a perguntas uns dos outros, e também dos jornalistas que faziam intervenções, ao vivo. O embate desroteirizado permitia maior dinâmica e naturalidade às manifestações dos políticos.

- O debate era um ponto central na campanha eleitoral, principalmente em 1989. Esse debate em questão foi um clássico porque, na época, a TV era um dos centros da campanha política. Era um ano político diferente, o país vivia um momento específico. Não que as outras eleições não tenham sido importantes, também, mas essa em questão foi um marco para a população e para a história do país - explica o cientista político e professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Santa Maria UFSM) Cleber Martins.

CONFRONTO HISTÓRICO
Confira quem participou do primeiro debate de 1989. Dois dos convidados, Collor e Ulysses, não participaram:

  • Fernando Collor (PRN) - O carioca foi o presidente eleito em 1989 e sofreu impeachment em 1992. Foi governador e deputado federal por Alagoas. Esteve só nos debates do 2º turno. Hoje, é senador do Pros
  • Ulysses Guimarães (PMDB) - Foi deputado estadual e federal por São Paulo, liderando a Constituição de 88. Foi ministro da Indústria do governo João Goulart. Esteve a partir do 2º debate. Morreu em 1992
  • Affonso Camargo Neto (PTB) - Nascido em Curitiba (PR), era engenheiro civil. Foi deputado federal do Paraná e vice-governador do mesmo Estado. O último cargo político foi entre 1987 e 1995 como senador da República pelo Paraná. Morreu em 2011, aos 81 anos
  • Afif Domingos (PL) - Nascido em São Paulo, é empresário. Foi presidente do Sebrae, vice-governador de São Paulo, secretário estadual de Desenvolvimento e de Trabalho e Emprego, ministro-chefe da Secretaria de Micro e Pequena Empresa no governo Dilma (PT) e deputado federal de São Paulo. Em 2019, no governo de Jair Bolsonaro (PSL), foi nomeado assessor especial de Empreendedorismo e Desburocratização do ministro da Economia. Hoje, integra o PSD 
  • Aureliano Chaves (PFL) - O mineiro de Três Pontas era engenheiro. Foi o último vice-presidente do governo militar, governador de Minas Gerais e deputado estadual e federal. A última função política que exerceu foi como ministro de Minas e Energia do Brasil, entre 1985 e 1988. Morreu em 2003, aos 74 anos 
  • Leonel Brizola (PDT) - O gaúcho, nascido em Carazinho, era engenheiro civil. Além de governador do Rio de Janeiro até 1994, último cargo político que ocupou, foi prefeito de Porto Alegre, deputado estadual e federal e governador do Rio Grande do Sul. Morreu em 2004, aos 82 anos 
  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Nascido em Caetés (PE), o metalúrgico disputou o segundo turno do pleito com Fernando Collor. Além de deputado federal por São Paulo, foi presidente do país de 2003 a 2010. Condenado por corrupção, atualmente está preso em Curitiba (PR)  
  • Mário Covas (PSDB) - O engenheiro civil nasceu em Santos, no litoral paulista. Foi prefeito, deputado federal, governador e, por fim, senador pelo Estado de São Paulo. Morreu em 2001, aos 70 anos 
  • Paulo Maluf (PDS) - Nascido em São Paulo, o empresário e engenheiro foi prefeito de São Paulo por duas ocasiões. Também atuou como deputado federal e governador pelo mesmo Estado. Hoje, integra o PP e cumpre prisão domiciliar por lavagem de dinheiro 
  • Roberto Freire (PCB) - O advogado recifense foi deputado estadual e federal pelo Estado de Pernambuco. Atuou no Senado pelo mesmo Estado. Representando São Paulo, também foi deputado federal. Por fim, foi ministro da Cultura durante o governo de Michel Temer (MDB). Hoje, integra o PPS
  • Ronaldo Caiado (PSD) - Atualmente, o goiano de Anápolis é o governador de Goiás. Antes, foi deputado federal e senador pelo mesmo Estado. Hoje, o médico integra o DEM 

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Outros concorrentes em 1989: 

  • Antônio dos Santos Pedreira (PPB)*
  • Armando Corrêa (substituído, em novembro daquele ano, por Silvio Santos, PMB, que teve a candidatura impugnada pelo TSE)*
  • Celso Brant (PMN)*
  • Enéas Carneiro (Prona)*
  • Eudes Oliveira Mattar (PLP)
  • Fernando Gabeira (PV)
  • Lívia Maria Pio (PN)
  • Manoel de Oliveira Horta (PDCdoB)
  • José Alcides de Oliveira, o Marronzinho (PSP)
  • Paulo Gontijo (PP)
  • Zamir José Teixeira (PCN)

*Já falecidos

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Para o professor Cleber Martins, as maiores mudanças na forma de serem realizados os debates ocorreram a partir de 2010. Segundo ele, a inclusão dos chamados marqueteiros nas campanhas transformou os confrontos e fez com que a postura dos candidatos ficasse, cada vez mais, engessada.

- De 2010 para cá, as campanhas passaram a ter outros focos e descentralizaram da TV. O modelo se modificou. O número de candidatos também foi mudando, porque naquele tempo, com o fim do período ditatorial, havia muita gente querendo atuar na política. Esse engessamento dos discursos pode mostrar uma fragilidade do candidato. Acredito que os debates deveriam ser menos engessados, porque é algo essencial e, na TV, é uma das poucas oportunidades onde as campanhas podem ser vistas pelo público - avalia o cientista político da UFSM.

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Hoje, o que se observa, segundo o cientista político e professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) Guilherme Howes, é que os candidatos não costumam ir muito além do que já é pré-determinado antes de subirem ao palco para os debates. De acordo com Howes, o confronto propriamente dito se perdeu com o passar dos anos.

- O telespectador brasileiro não dominava a linguagem dos debates, então esse foi um debate marcante na TV. Era uma novidade, porque havia uma geração inteira que não conhecia nada disso - comenta Howes.

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As mudanças afetaram o público de tal forma que, nas últimas eleições, ocorridas em 2018, Jair Bolsonaro (PSL), presidente eleito em segundo turno, não participou da maioria dos debates realizados na televisão devido ao atentado sofrido durante a campanha. Ele recorreu às redes sociais para pedir votos. Como já é tradicional, o primeiro embate do ano passado foi realizado pela Band e dos 13 candidatos lançados, apenas oito foram convidados. Isso porque as emissoras são obrigadas a convidar só concorrentes de partidos com pelo menos cinco parlamentares no Congresso.

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Howes concorda que os debates eram - e continuam sendo - importantes. Entretanto, ele diz acreditar que o Brasil recém está passando por um processo de maturação política. Para ele, o formato ainda deve ser modificado para os próximos pleitos, tendo em vista o grande crescimento das mídias sociais que auxiliam nas campanhas.

- A forma como os candidatos chegam aos eleitores, hoje, mudou. Saiu da TV e do rádio e a força se concentrou nas mídias sociais. Com isso, a importância dos debates também deve mudar. Talvez, agora, os candidatos passem a realizá-los de forma efetiva - afirma.

O professor defende que o país passe a considerar, a partir de 2022, o modelo de debate norte-americano, em que são só dois candidatos em confronto por ideologias e visões de mundo, e não apenas por propostas.

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